Este artigo foi escrito em 10 de setembro de 2006 para uma competição inter-escolares promovida pela Folha Dirigida. Infelizmente meu colégio não foi capaz de reunir alunos suficientes para entrar na competição, portanto este artigo nunca foi publicado. Venho então publicá-lo informalmente, um ano após a sua produção, selando definitivamente a necessidade de que as pessoas o leiam (que parece ser maior do que no ano passado, e creio que esta onda crescente não mudará de curso nas próximas décadas).
Viva a liberdade de expressão! Livre para dizer o que pensa para uma nação escrava do pensamento e reprodutora das idéias dos grandes e poderosos. Simplesmente irônico... Um tiro no pé.
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A democracia surgiu sob o ideal de trazer igualdade para os cidadãos da sociedade, buscando a participação popular no destino de sua nação.
Surgindo no período da Grécia clássica, sob o governo de Clístenes de Atenas, a democracia mostrava-se como uma esperança diante do contexto político, intensamente caracterizado pela tirania. No entanto, a democracia foi esquecida nos primeiros anos do império Romano, tendo o seu retorno à História no século XVII como teoria, e XVIII de modo efetivo, graças aos ideais propagados pelo mundo com a influência da revolução francesa e a independência dos Estados Unidos da América sob a forma de democracia moderna.
Buscando a definição do verbete democracia pelo dicionário eletrônico Houaiss, encontra-se: “governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania; sistema político cujas ações atendem aos interesses populares; governo no qual o povo toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas (...); sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição equitativa de poder entre todos os cidadãos.”
Atentando para a definição, é interessante lembrar que mesmo com todos os ideais de igualdade difundidos por quase todo o mundo, graças a globalização, a democracia parece cada vez mais esquecer o seu real sentido, impresso na etimologia da palavra, do grego dêmos, “povo”, e kratía, “força, poder”. Ao olhar o Brasil de forma crítica, tendo em mãos a definição da democracia moderna, percebe-se um enorme abismo que separa o caráter ideológico da constituição brasileira e a efetivação do mesmo.
Infelizmente os ideais apresentados durante o Iluminismo não foram seguidos à risca no tocante à igualdade de poder. Tratando-se do mundo capitalista em que o Brasil está inserido, onde o capital representa o poder, e como uma continuação de toda a História já ocorrida, este poder se mantem concentrado nas mãos desta minoria.
De fato, muita evolução ocorreu no sistema democrático desde Clístenes até os filósofos iluministas, como o barão de Montesquieu e John Locke. Porém, com boa parte da população parecendo manter desligado o seu olhar crítico sobre o contexto político, toda esta evolução se mostra ameaçada. Isso pode ser constatado em pesquisas datadas do ano de 2005 que indicam um fato realmente preocupante: a insatisfação do brasileiro com a democracia.
Segundo a revista britânica The Economist, a preferência pela democracia no Brasil - que em 1996 era de 50% dos entrevistados, número já preocupante - teve uma constante queda, sendo que em 2005 somente 37% dos brasileiros tinham preferência pela democracia. Mais preocupante ainda, são os dados do Latinobarômetro indicando que apenas 56% dos brasileiros da atualidade rejeitam a idéia de um eventual retorno do poder aos militares. Estes dados não só preocupam, como também tomam feições aterrorizadoras em face às repressões já sofridas durante o regime militar por aqueles que tanto lutaram por essa liberdade, para que a mesma seja entregue sem o menor traço de protesto.